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Ìyálórìsà responsável pelo Ilê Ìyába Àse Òsun Doko, de Nação Ijexá, localizado na cidade de Gravataí-RS; filha de Pai Pedro de Oxum Docô. Contatos fone:(51) 9114-2964 ou e-mail fernanda__paixao@hotmail.com

quinta-feira, 31 de julho de 2008

BEM X MAL



Diferentemente das culturas judaico-cristãs, para os Yorùbá não existe uma figura oposta ao ser supremo, Olódúmarè, e tudo o que acontece no universo, seja de positivo ou negativo, é derivado dele e seu àse(axé).
O bem e o mal não são resultado de uma batalha de duas forças cósmicas figuradas, externas e opostas, mas sim da ação do homem sobre a energia irrefreável, criadora e potencializadora por natureza, porém neutra. É apenas força, nem boa e nem má, o seu uso sim, pode ser para fins construtivos ou destrutivos, e isso depende unicamente do direcionamento que nós, seres humanos, damos a ela.
Olódúmarè deu aos homens àse(axé- poder divino criador), e os dons da mente, da palavra e da inteligência. Ao mesmo tempo cabe a casa um de nós, as escolhas do que fazer com nossos próprios poderes.
Uma das leis universais é que, a toda ação corresponde uma reação, seja ela igual ou contrária. Ou seja, quando emanamos axé, levando-se em consideração que axé é a própria força que nos mantém vivos e está em tudo e todos, é emanado de nós a todo e qualquer momento; então, a cada atitude ou falta desta quando necessário, o universo nos responderá, ou nos devolverá esse axé de alguma maneira.
Dada a complexidade de cada ser humano, que é um conjunto de ideais, paixões, valores, vontades, interesses, crenças, as definições de bem/mal variam de sociedade para sociedade, grupo para grupo, pessoa para pessoa.
Em uma sociedade capitalista, em que a maioria das relações são competitivas e condicionais, esses dois conceitos de confundem ainda mais, pois o bem-estar de um(ns) pode ser definitivamente relacionado com o mal-estar de outro(s).
Tanto o bem quanto o mal acabam variando de acordo com as situações particulares e a necessidade individual de cada um de nós.
Fazer com que uma força, um axé seja uma força boa ou má depende de todo o seu contexto de uso e finalidade, e de todo o processo que será desencadeado a partir dela.
Bem e mal nem sempre serão forças opostas, muitas vezes um único elemento pode trazer consigo ambos conceitos, dependendo do ponto de vista do qual é analisado.
Não espera-se a perfeição dos humanos, ao contrário, nenhum ser humano é totalmente bom ou mau! O ideal de perfeição apenas aplica-se a Olódúmarè, o ser supremo, e nem mesmo os Orixás deixam de ter qualidades e defeitos, aspectos positivos e negativos de personalidade e caráter.
Nem assim deixamos de ter responsabilidade por cada um de nossos atos, pensamentos e atitudes, e usar a forças de forma positiva ou negativa sempre será uma escolha de cada um de nós, segundo nossos próprios valores, vontades e crenças.

Púpò àsé!

Àse


Afinal o que é AXÉ (àse)???

Força mítica do universo; Poder e força vital; Força divina vivificante ou mística; Força mágico-sagrada; Poder místico e potencial presente em tudo o que existe no òrun (mundo espiritual) e àiyé (mundo material), em todas as coisas, sejam elas concretas ou abstratas.
Força geradora e potencializadora, através da qual Olódúmarè, o Ser Supremo, se faz presente em todos os elementos do universo.

A presença de "Deus" para os Yorùbá não é remota, distante; ao oposto, o "sagrado" está impregnado em tudo e todos através do àse (axé), uma "porção" de Olódúmarè, onipresente, onisciente e onipotente. É a síntese de tudo o que existe, o que impulsiona a vida e a matéria, sendo estas produtos e fontes condutoras deste mesmo àse (axé).

São os Òrìsàs (Orixás) divindades emanadas do próprio Olódúmarè, através e com àse (axé), e são considerados como personificações das "qualidades divinas" e assistem ao Ser Supremo nas tarefas do universo, sendo que cada um deles tem seus atributos e seu "papel" no estabelecimento do equilíbrio das relações entre o mundo espiritual e o material (òrun e àiyé), entre homem e natureza, entre a humanidade e "Deus".

Segundo Pierre Verger:
"...os iorubas nunca viram o ase, nem pretendem personificá-lo. Nem podem defini-lo por atributos e características determinadas. Ele envolve todo mistério, todo poder secreto, toda divindade. Nenhuma enumeração consegue exaurir esta idéia infinitamente complexa. Não é um poder definido ou definivél, é o próprio Poder no sentido absoluto, sem epíteto ou determinação de alguma espécie...é o princípio de tudo o que vive, age ou se move. A vida inteira é ase."

Àse (axé) é tudo e mais... é a própria existência. Sem ele nada é possível! É força que evolui, cresce e revigora-se constantemente. Por sua essência, vai além das definições e da completa racionalização para a compreensão humana.

Àse (axé) é eterno... é tudo o que foi, o que é e o que será!

Púpò àse! (muito axé)