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Ìyálórìsà responsável pelo Ilê Ìyába Àse Òsun Doko, de Nação Ijexá, localizado na cidade de Gravataí-RS; filha de Pai Pedro de Oxum Docô. Contatos fone:(51) 9114-2964 ou e-mail fernanda__paixao@hotmail.com

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

EBO = SACRIFÍCIO E OFERENDA

(Extraído de Òrun-Àiyé: o encontro de dois mundos: o sistema de relacionamento nagô-yorubá entre o céu e a Terra, de José Beniste, Editora Bertrand Brasil)


 Um ebo (ebó) pode ser definido como um ato de se fazer uma oferenda, do reino animal, vegetal ou mineral, de comidas, bebidas e qualquer objeto, a uma divindade ou entidade espiritual. É um ato mágico-religioso que se utiliza das forças naturais existentes nesses elementos para um determinado fim. Por este motivo costuma-se dizer que o ebo revela-se como a maior fonte de comunicação entre todas as fontes do universo.


A palavra ebo significa sacrifício e vem de bo - alimentar, palavra utilizada somente para òrìsà, coisas e animais, nunca para uma pessoa. Rírú ebo òrìsà significa oferecer sacrifício ao òrìsà. Na língua yoruba, não há diferentes nomes para definir o sacrifício de animais, de plantas, de oferendas ou trabalhos determinados pelo jogo de búzios. Tudo é conhecido por um só nome: ebo


Há uma tendência de se atribuir qualidades parecidas dos humanos às dos òrìsà, a quem as oferendas são feitas. Eles podem tocar, ouvir, sentir nossas emoções; têm apetites, desejos e tabus semelhantes aos seres humanos. Para manter essa comunhão, ofertam-se de forma regular as oferendas sob diversas formas, de acordo com a situação que se almeja.


IMPORTANTE:

TODO ATO MÁGICO RELIGIOSO POSSUI TRÊS ELEMENTOS:
1. A condição de competência daquele que realiza;
2. Palavras a serem proferidas em forma de reza - adúra -, saudações - oriki -, cânticos - orin -, e encantamentos - ofò -;
3. A forma de realizar os trabalhos e os locais adequados.




RELIGIÃO E MAGIA - O ÀSE (AXÉ)

(Extraído de Òrun-Àiyé: o encontro de dois mundos: o sistema de relacionamento nagô-yorubá entre o céu e a Terra, de José Beniste, Editora Bertrand Brasil)

Todo o culto yorubá tem sua significação pela crença nas forças divinas e na capacidade de elas darem o Àse (axé), elemento essencial para a existência da Religião de matriz africana e de tudo que nela existe e venha a existir. A palavra Àse possui três interpretações distintas, mas que se interligam por força do que eles representam:


ÀSE - como palavra, representa o “Que assim seja”, definindo o conceito de que é Deus, O Ser Supremo, somente Ele, que permite a realização de um pedido ou da outorga de algum poder. Ao se dizer Àse ao final de uma oração ou um pedido, a idéia é a de que “Deus é quem irá decidir se o pedido será aceito ou não”, embora a oração seja destinada a um Òrìsà. Nestes casos, o Òrìsà exerce a sua função de intermediário, intercedente junto ao Ser Supremo. Citamos o exemplo de uma invocação, Ìjúbà:


Olójó Òní, mo júbà  
(Senhor deste dia, minha homenagem)
Ìbà á se
(Que a homenagem seja aceita)
Ìlà oòrùn, mo júbà
(Leste eu rendo minha homenagem)
Ìbà á se
(Que a homenagem seja aceita)
Ìwò oòrùn, mo júbà 
(Oeste, eu rendo minha homenagem)
Ìbà á se
(Que a homenagem seja aceita)
Àríwá, mo júbà
(Norte, eu rendo minha homenagem)
Ìbà á se
(Que a homenagem seja aceita)
Gúúsù, mo júbà
(Sul, eu rendo minha homenagem)
Ìbà á se
(Que a homenagem seja aceita)
Àkódá, mo júbà
(Ao primeiro ser criado, minha homenagem)
Ìbà á se
(Que a homenagem seja aceita)
Adá, mo júbà
(Criador dos homens, minha homenagem)
Ìbà á se
(Que a homenagem seja aceita)
Ilè mo júbà
(Terra, eu rendo minha homenagem)
Ìbà á se
(Que a homenagem seja aceita)
Èsù Òdàrà, mo júbà
sù Òdàrà, minha homenagem)
Ìbà á se
(Que a homenagem seja aceita)
Agbagba, mo júbà
(Aos ancestrais, minha homenagem)
Ìbà á se
(Que a homenagem seja aceita)


Sàsàrà, osé, àbèbè
ÀSE - como matéria, representa as forças e o poder de todos os elementos representados por símbolos que se identificam com as divindades: sàsàrà, osé, àbèbè, as folhas (ewé), árvores, cânticos, rezas, e a própria casa de Religião, muito apropriadamente definida como Ilé Àse, Casa do Àse, e sua dirigente definida como Ìyáláse, a Zeladora (Mãe) do Àse.






ÀSE - como fluido mágico que não tem forma mas é sentido, e que dá vida e forma a tudo que existe. Em sua relação de criar e recriar, se desgasta e é preciso ser revivido com preceitos, ervas e cânticos, com rituais diversos que permitirão a relação constante entre o àiyé e o òrun.


O próprio ser humano represente o Àse de Vida, sendo por essa razão a resposta sempre afirmativa, diante da saudação yorubá por excelência, ao se perguntar por uma pessoa:


Sé àlàáfíà ni? - Como vai você?
Àlàáfíà ni, a dúpé. - Vou bem, obrigado.


A palavra àlàáfíà é de origem árabe, e que no hausá é conhecida como lafiya; significa paz, saúde da mente e do corpo. No caso da saudação acima, literalmente significa “Você está em paz com Deus?” A resposta será sempre afirmativa, cujo agradecimento, a dúpé, na 1° pessoa do plural, possui dois sentidos: agradecer à pessoa que está perguntando e a Deus, por estar vivo. Se a pessoa está viva, está com o Àse de Olódùmarè. 


Para que o Àse se produza, é feita uma série de preceitos que se utilizam de símbolos e palavras que expressam o desejo a ser obtido. No culto ao Òrìsà, tanto a religião - èsin - quanto a magia - idán - são empregadas para atingir este objetivo. São tão interligadas que se torna difícil dizer quando uma invade o domínio da outra. Na realidade, uma ìyálórìsà ou qualquer outra pessoa que assume função sacerdotal é uma espécie de cientista, na medida em que procura descobrir (jogo de búzios) e aplicar (ebo) as leis do universo.


Há uma consciência de suas limitações, mas também há é consciente de que existem recursos no universo que podem ser utilizados em seu proveito e no da comunidade; ora apelando ao Ser Supremo por meio de preces, ora idealizando uma forma de captar forças elementares. Não há aí nenhuma forma de coação junto às divindades. O que a magia faz é utilizar os recursos proporcionados pelo Ser Supremo, para uso da humanidade. 



TODO ATO MÁGICO RELIGIOSO POSSUI TRÊS ELEMENTOS:
1. A condição de competência daquele que realiza;
2. Palavras a serem proferidas em forma de reza - adúra -, saudações - oriki -, cânticos - orin -, e encantamentos - ofò -;
3. A forma de realizar os trabalhos e os locais adequados.