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Ìyálórìsà responsável pelo Ilê Ìyába Àse Òsun Doko, de Nação Ijexá, localizado na cidade de Gravataí-RS; filha de Pai Pedro de Oxum Docô. Contatos fone:(51) 9114-2964 ou e-mail fernanda__paixao@hotmail.com

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A RELIGIÃO QUE EU ACREDITO


"A Religião que eu acredito é aquela construída por todos, no dia-a-dia, com sacrifício, suor,  respeito, 
entrega, fé e amor ao Òrìsà...

A Religião que eu acredito abomina a feitiçaria, o topa tudo por dinheiro, 
o materialismo desenfreado...

A Religião que eu acredito tem no Òrìsà o início, o fim e o meio, último e único recurso...

A Religião que eu acredito é a das velhas e 
negras senhoras, de fé inabalável 
e sabedoria que brota das raízes...

A Religião que eu acredito adora árvores como deuses, e tem na vida seu bem supremo...

A Religião que eu acredito é aquela onde a vestimenta não suplanta valores e onde não 
se substitui a forma pelo conteúdo...

A Religião que eu acredito resistiu a escravidão, 
ao porrete da polícia, a marginalização e
 demonização sempre lhe imputada...

A Religião que eu acredito não é um modismo, 
um suvenir, algo descartável que 
jogamos fora quando não nos serve mais...

A Religião que eu acredito não é um show de 
estética extravagante, circo dos incaltos, 
mas um ritual de celebração a vida... 

A Religião que eu acredito é uma experiência 
vivida de amor pleno, fé e respeito aos Òrìsà, 
dentro e fora de nós...."

Fonte: http://iyalorisaelainetiosun.blogspot.com
Com alterações e adaptações.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Como surgiu a consulta a Ifá



Este mito fala sobre o retorno de Òrúnmìlà para o òrun, ficando os ikin¹ como seus representantes na Terra. Tem início num determinado tempo, quando Òrúnmìlà ainda não possuía filhos e seus oponentes o recriminavam: “Bàbá ò ní bi omo ni Ifè.” [“O pai que não tem filhos em Ifè.”]. Mas estavam enganados, pois mais tarde ele veio a ter oito filhos que se tornariam reis em várias cidades yorubás.


O primeiro filho foi denominado Alárá, o rei da cidade de Ará; o segundo foi Ajerò, rei de Ìjerò; o terceiro, Olóyémoyin, rei da cidade de Oyé; o quarto, Alákegi; o quinto, Óntangi-òlélé, rei de Ìtagi; Eléjèmòpé, de Ìjèlú; Owaràngún-àga, título de sacerdotes de Ifá; e Olówó, rei de Òwò.


Òrúnmìlà sentiu-se realizado, e, por ocasião de uma grande solenidade, quando celebrava um ritual, mandou chamar seus filhos. Atendendo ao chamado, todos prestaram obediência ao pai, saudando-o com a expressão “Àborúboyè bo síse.” [“Que os rituais sejam abençoados e aceitos" ou "Que o sacrifício seja abençoado e aceito.”]. Apenas Olówó se recusou a saudar Òrúnmìlà. Além disso, ele estava todo vestido de forma idêntica ao pai, o que significava uma afronta e desrespeito à autoridade paterna. 


Òrúnmìlà exigiu que ele dissesse as mesmas palavras dos irmãos, mas ele se recusou, permanecendo de pé e dizendo:
Òrúnmìlà, você se veste com a roupa òdùn², eu me visto com a mesma roupa; você empunha o òsùn³ feito de bronze, também tenho o meu cajado de bronze; suas sandálias são de bronze, as minhas também são; você usa uma coroa, e eu também. Assim, uma cabeça coroada não se curva para outra cabeça coroada.”


Diante do que estava vendo - uma total afronta à sua autoridade-, Òrúnmìlà se enfureceu e arrancou o òsùn das mãos de Olówó, o que significava cassação de sua autoridade. Mas não ficou apenas nisso. O fato levou Òrúnmìlà a se retirar do plano terrestre e retornar ao òrun. O resultado foi a fome, a peste, as doenças, a esterilidade, pois Òrúnmìlà representava o princípio da ordem, da sabedoria, da fertilidade. Sua partida levou a Terra a um colapso, ameaçando a extinção humana.


Os habitantes da Terra se viram clamando pela sua volta. Os rios secaram, os doentes continuaram enfermos, as espigas de milho brotavam mas não amadureciam. Sacrifícios foram feitos, mas sem resultado algum. 


Pediram que os filhos intercedessem pelo seu retorno a fim de restaurar a ordem das coisas.


Diante disso, os filhos foram até o òrun para pedir que o pai voltasse. Rogaram e recitaram preces de louvores. Mas o pai, mesmo com a decisão já tomada, ordenou-lhes que estendessem as mãos para a frente e deu-lhes os 16 ikin, os coquinhos sagrados de Ifá, dizendo-lhes: “Quando chegarem em casa, se desejarem possuir dinheiro, serão esses ikin que deverão consultar; se desejarem esposas e filhos, serão esses ikin que deverão consultar.”


Fazendo um determinado ritual, Òrúnmìlà reassumiu sua autoridade, colocando-se como a ligação entre o òrun e o àiyé. Deixou de herança aos seus filhos e discípulos o sistema oracular que permite invocá-lo em todos os momentos necessários.

NOTAS:
  1. Ikin: Coquinhos da palmeira do dendezeiro.
  2.  Òdùn: Um tipo de traje yorubá com detalhes feitos em palha-da-costa.
  3. Òsùn: Um bastão sagrado utilizado apenas pelos Bàbáláwo, símbolo de uma divindade conhecida pelo mesmo nome. É usado como um cajado e sempre posicionado ereto e colocado de pé apoiado numa parede.
Fonte:  Livro "Mitos Yorubás: O Outro Lado do Conhecimento", de José Beniste