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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Itan: Como Oxum ganhou o título de protetora das crianças

Orumilá, orixá da sabedoria e da adivinhação, foi o primeiro esposo de Oxum. Um essé(relato) do odu Ogundá-xê, um dos 256 signos do sistema de Ifá, conta que Orumilá deu a ela 16 búzios como presente de núpcias, ainda hoje usados pelos sacerdotes de Oxum para se comunicarem com o Orun em favor de seus seguidores. Orumilá também permitiu à bela Oxum que fosse cultuada no mesmo dia que ele.


Infelizmente, Oxum não ficou grávida durante o casamento. De acordo com as tradições africanas, tal fato é uma desgraça, pois filhos são a prioridade de todo casal. Já aflita com a situação, ela resolveu dar a seu marido o direito de ter filhos e, relutantemente, deixou Orumilá.


Nove meses depois, Oxum conheceu seu segundo esposo: Xangô Aieledjê. Os dois descobriram instantaneamente que suas personalidades se completavam, e foram muito felizes como marido e mulher. Entretanto, sua adoração um pelo outro não remediou a incapacidade de Oxum em conceber filhos de seu novo marido. Muito desapontados, eles realizaram vários rituais, sem conseguir nenhum proveito. Mas Oxum não desistiu. Ela conversou com Xangô e ambos concordaram que ela deveria voltar para o seu primeiro marido, o adivinho Orumilá, pedindo que ele consultasse Ifá para apurar o que estava acontecendo.


Quando Oxum chegou à casa de Orumilá, ele ficou feliz em vê-La e foi imediatamente consultar Ifá. Orumilá assegurou a Oxum que esta história de não ter filhos iria logo terminar. Sua solução estava no palácio de Orun, o mundo espiritual: era para lá que Oxum deveria viajar a fim de buscar sua cura. Sua esterilidade se transformaria em fertilidade, e Olodumare, deus supremo, abriria as portas para as crianças virem ao mundo. O adivinho aconselhou Oxum a reunir os itens que haviam saído no jogo, para que se oferecesse um sacrifício especial em sua intenção. Assim foi feito.


Quando se deu por conta, Oxum estava no Orun escutando a voz de Olodumare, que perguntou a ela qual a razão de estar ali. Oxum ficou atônita, e Olodumare pediu que se acalmasse. Depois de oferecer a Oxum um lugar para se sentar, Ele começou a contar histórias de seres que vinham ao Orun para fazer pedidos semelhantes, lembrando que as crianças do Orun fugiam deles sem razão aparente.


Então Olodumare abriu a porta de onde as crianças estavam. Era a visão mais linda que se poderia ter. Oxum olhou maravilhada para uma multidão de meninos e meninas, que corriam para cima e para baixo, em grande algazarra. Quando as crianças viram Oxum, correram em sua direção. Ela então ofereceu-lhes doces, e assim mais e mais crianças aglomeravam-se ao seu redor. Todos foram seguindo Oxum, que se encaminhava para a divisa entre o Orun (mundo espiritual) e o Aiye (mundo material). Porém, logo que chegaram a este ponto, as crianças pararam abruptamente. Oxum deu às crianças as últimas gostosuras do pote no topo de sua cabeça e voltou para o mundo material.


Na sua chegada, entretanto, Oxum notou que as crianças não a haviam acompanhado e começou a chorar. Ela se debulhou em lágrimas e contou a Orumilá o que acontecera.


Orumilá aconselhou Oxum a não mais chorar, dando-lhe parabéns. Ele lhe contou que ela estava grávida e deveria parir logo. Não foi de outro modo. Quando Oxum ficou grávida de três meses, outras mulheres estéreis também engravidaram. E, quando a gravidez atingiu o nono mês, nada podia segurar os recém-nascidos que vinham ao mundo. Oxum usou ainda seus segredos para baixar a febre de seus filhos. Orumilá recomendou que as mulheres fizessem oferendas em favor de suas crianças e também de Oxum para demonstrar sua gratidão.


Toda vez que estas oferendas são entregues, deve-se entoar uma cantiga cujo significado é: “Saudações à Grande Mãe; aquela que usa jóias de bronze para acalmar a criança”.


Oxum passou a ser venerada na terra ioruba. Ela curou a febre de todas as crianças, que não tiveram nenhuma dificuldade desde então. Foi assim que Oxum ganhou o título de Irunmalé Olomowewê, divindade protetora das crianças.


(De origem presumidamente africana, mito contado pela norte-americana Ladekoju Lakesin, e extraído, com adaptações, do Livro "Oxum" de Luís Felipe de Lima, 104:108)

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