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Ìyálórìsà responsável pelo Ilê Ìyába Àse Òsun Doko, de Nação Ijexá, localizado na cidade de Gravataí-RS; filha de Pai Pedro de Oxum Docô. Contatos fone:(51) 9114-2964 ou e-mail fernanda__paixao@hotmail.com

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A designação do título de Òrìsà nlá

Òrúnmìlà

O universo divino de Olódùmarè foi constituído de seres primordiais; entre eles, os mais antigos: Obàtálá e Òrúnmìlà. Com a criação do novo mundo, decidem ambos instalar-se em uma das regiões da Terra. Òrúnmìlà leva todo o seu material divinatório para Òkè Ìgètí e ali passa a dar assistência àqueles que o procuram, desempenhando as funções designadas pelo Ser Supremo - a de atendimento e orientações sobre o plano de vida estabelecido. Quanto a Obàtálá, ele toma o caminho para as terras de Abéòkúta.


Obàtálá
No começo de tudo, quando Obàtálá criou a Terra e todos os seus atributos, ele fez a distribuição de todas as partes para todo o povo nelas viver suas vidas, cabendo para si a região mais árida e coberta de pedras, pois não queria privilégios. Então, em Abéòkúta, ergue a sua fazenda cujo terreno era mais rochedo do que solo fértil para plantação. Apesar de toda adversidade, suas terras eram as que mais produziam colheitas de todos os tipos. E o povo comentava: “Como podem as colheitas terem crescido em tal lugar?” Enquanto todos tinham trabalho árduo pela manhã até a noite, a produção da terra não se comparaca com a produção das terras de Obàtálá. Apesar de pouco trabalho, suas terras estavam sempre verdes, chovesse ou não; nunca havia falta do grão de milho ou de inhame.


O povo passou a comentar o fato, sentindo-se ofendido. Dizia: “Que espécie de pessoa é Obàtálá? Nossa parte da terra, melhor que a dele, não nos proporciona fartura para nos tornar ricos.” com esse pensamento cada vez mais tomando conta da cabeça de todos, passaram a cobiçar as terras dele. Com isso, arquitetaram planos para tomar suas terras. Esqueciam quem era Obàtálá e o que ele havia feito por todos. Passaram a observar seus passos e ficaram sabendo que ele estava interessado em contratar um ajudante. 


Era por isso que Obàtálá havia sido visto no mercado de Emùré! Adquiriu um escravo cujo nome era Àtowódá, que demonstrou ser muito prestativo no início, trazendo-lhe muita satisfação. Após algum tempo, o escravo pediu a Obàtálá um pedaço de terra para o seu cultivo. De bom grado lhe foi dado um pedaço de terra ao lado de uma montanha situada não muito longe da casa de Obàtálá. 


Em poucos dias, Àtowódá limpou tudo, transformando-o numa pequena fazenda, e ali construiu uma cabana. Isso impressionou muito Obàtálá, que depositou nele toda a sua confiança.


Àtowódá, porém, não tinha bons propósitos. Seu desejo, na verdade, era destruir Obàtálá e, com essa finalidade, vinha ordenando seu tempo, pensando no melhor modo de levar a cabo seu objetivo. E logo encontrou um jeito. Observou que, no caminho íngreme que levava até a sua cabana, havia pedras grandes encaixadas no solo e que soltando o solo abaixo dessas pedras poderia facilmente causar o seu rolamento montanha abaixo para esmagar Obàtálá a qualquer momento que subisse o caminho para fazer uma visita à sua fazenda. Então, selecionou cuidadosamente a pedra, de forma que, com um pequeno empurrão, ela pudesse rolar montanha abaixo para atingir Obàtálá.


Alguns dias mais tarde, Obàtálá seguia em sua caminhada habitual em visita às suas terras. Do topo da montanha, Àtowódá o espreitava. A habitual roupa branca de Obàtálá destacava-o do fundo verde de suas plantações. Quando Àtowódá se certificou de que não haveria chance para Obàtálá evitar que a pedra o atingisse, deu um empurrão na maior de todas. A pedra saiu rolando e se dirigiu a toda a velocidade para onde se encontrava Obàtálá, o qual, paralisado pela surpresa, não conseguiu escapar: foi atingido em cheio, e seu corpo, partido em muitos pedaços.




A notícia se espalhou por todos os lugares. Obàtálá havia sido destruído por homens invejosos. Èsù foi um dos que tomaram conhecimento da notícia e seguiu rápido para o local afim de verificar o ocorrido, seguindo depois para o òrun, com o intuito de relatar a tragédia a Olódùmarè. Este designou Òrúnmìlà para encontrar as partes do corpo de Obàtálá e trazê-las de volta. Òrúnmìlà seguiu imediatamente para o local, e, após um certo espaço de tempo perdido em lamentar o fato, executou um ritual que tornava possível a ele localizar todos os pedaços do corpo espalhados. Ele os recolheu num grande igbá e os levou para Irànje, antiga cidade de Obàtálá. Lá depositou uma porção dos pedaços que possibilitava fazê-lo renascer no òrun. O restante das partes do corpo, ele espalhou por “todo o mundo”, fazendo com que fossem surgindo novas divindades denominadas então de Òrìsà, daí a contração da frase “Ohun ti a ri sà”, que significa “o que foi achado e juntado”, alusão ao fato do recolhimento dos pedaços do corpo de Obàtálá.


Como as outras divindades surgidas do corpo de Obàtálá passaram a ter nomes derivados do dele, tornou-se necessário destacar o seu nome como Òrìsà nlá - O Grande Òrìsà -, que representa a soma de todos os Òrìsà juntos.


CONCLUSÃO:
Nos primórdios do mundo nagô, deu-se a oportunidade de uma convivência pacífica entre os seres humanos e as divindades. São dessa fase as inúmeras histórias relacionadas com os Òrìsà. Neste mito há a sugestão de que Òrìsà era originalmente uma unidade e que o processo de fragmentação transformara uma mesma divindade em várias outras. Revela, ainda, o arquétipo das pessoas identificadas com este Òrìsà: são pessoas constantemente iludidas em sua confiança. Embora portadoras de propósitos criadores e de grande bom-senso, têm a tendência de serem vítimas de inveja e falta de reconhecimento da obra que realizam.


NOTAS:

  • Òkè Ìgèti: Local montanhoso onde se presume que Òrúnmìlà tenha vivido, conforme alguns relatos da literatura de Ifá.
  • Abéòkúta: Cidade yorubá onde é mantido o culto a Yemoja, que é reverenciada no rio Ògùn, que corta toda a região. Abé - embaixo; òkúta - pedras.
  • Igbá: Fruto da cabaceira (Curcubita lagenaria) utilizado como recipiente e utensílio diversos, de acordo com a forma apresentada: akèrègbè - cabaça inteira; igbá - cortada ao meio; ahá - formato de copo; ìgbájè - em forma de prato.


(Extraído do Livro "Mitos Yorubás: O Outro Lado do Conhecimento", de José Beniste)

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