“Um belo dia, sobreveio uma seca muito grande sobre a Terra. Já fazia mais de três anos que não chovia. A miséria e a fome já assolavam o mundo e, então, os Orixás resolveram consultar Ifá, que determinou que fosse feita uma oferenda a Olódùmarè, para que se apiedasse da Terra e, interferindo, a salvasse da destruição.
Um grande ebó foi preparado, e nele foram colocados uma cabra, uma ovelha, um cachorro, uma galinha, um pombo, um preá, um peixe, um touro selvagem, um pássaro da floresta, um pássaro da savana, um animal doméstico, dezesseis pequenas jarras contendo azeite-de-dendê, dezesseis ovos de galinha, dezesseis pedaços de pano branco, muitas e diferentes folhas de Ifá e um ser humano.
Foi feito então um grande carrego com todas as coisas e o Odu Ejiobe conduziu-o até as portas do Òrun, que, infelizmente, não lhes foram abertas, e impedido de prosseguir, ele foi obrigado a retornar à Terra. E todos os demais dos 16 Odus de Ifá tentaram chegar aos pés de Olódùmarè, com a oferenda, mas todos foram impedidos de prosseguir pelo mesmo motivo: Olódùmarè não lhes abria as portas.
Foi assim que, chegada a sua vez, Òsétùwá, o 17° Odu, foi encarregado de transportar o sacrifício até Olódùmarè.
Antes de partir, o filho de Òsun foi consultar o Oráculo, e dele recebeu as seguintes ordens: _Uma oferenda deve ser feita, composta de seis pombos, seis galinhas, e seis centavos, antes de tua partida para o Òrun. Quando fores fazer a oferenda, encontrarás no teu caminho, uma anciã, à qual deves fazer o bem.
Quando o jovem partiu para entregar a oferenda a Èsù, encontrou no caminho uma velha, que já existia desde o tempo em que os primeiros seres humanos surgiram na Terra.
_ Òsétùwá _ chamou a velha_ À casa de quem tu pretendes ir hoje? Ouvi rumores, na casa de Olódùmarè, que os 16 Odus mais velhos tentaram, sem sucesso, levar um sacrifício ao Òrun. É chegada a tua vez de tentar a mesma coisa?
_ Sim, é chegada a minha vez. _ disse Òsétùwá.
_ Comeste alguma coisa hoje? _ perguntou a velha.
_ Sim, eu já me alimentei. _ ele respondeu.
_ Pois eu, já faz três dias que não tomo qualquer tipo de alimento. Não tenho dinheiro para comprar comida. _ disse a velha.
Condoído, o jovem pegou os seis centavos que iria oferecer à Èsù, entregou-os à velha para que pudesse comprar alimentos.
_ Adupe o! Agora volta ao local de onde vieste e diz a todos que não irás hoje porque achas que não é conveniente. Amanhã, de manhã bem cedo, carrega a oferenda de Olódùmarè. Não deves comer nada, nem sequer podes beber água antes de chegares às portas do Òrun. Todos os que te precederam comeram a comida da Terra antes de partir e, por isto, as portas lhes foram fechadas. _ concluiu.
E, dizendo isto, a velha desapareceu na mesma forma que aparecera, misteriosamente.
No mesmo dia Òsétùwá foi ao encontro de Èsù para perguntar-lhe como deveria agir.
_ Jamais pensei que viesse me pedir orientações antes de partir! Mas tenha a certeza de uma coisa, isto tem que acabar e hoje eles vão te abrir as portas! Comeste algum alimento ou bebeste alguma coisa? _ perguntou Èsù.
_ Não, nada comi, nada bebi! Ontem, quando me propunha a seguir viagem, deparei com uma velha que me aconselhou a adiar para hoje a minha missão, e para que fosse bem-sucedido, deveria manter o mais absoluto jejum._ respondeu Òsétùwá.
_ Muito bem, se é assim irei contigo._ disse Èsù.
E então Òsétùwá e Èsù partiram juntos rumo aos portões do Òrun.
Qual não foi a surpresa de ambos quando, ali chegando, encontraram os portões já abertos, como se estivessem esperando por eles.
Apressados, seguiram em direção ao palácio de Olódùmarè que, depois de examinar a oferenda, disse:
_ Vocês sabem me dizer qual foi o dia que choveu pela última vez na Terra? Gostaria de saber se o mundo já não foi completamente destruído... Que tipo de vida ainda pode ser encontrada por lá?
Se querem preservar o mundo é indispensável que seja criado um culto por meio do qual os homens restituam parte de tudo o que consomem para seu próprio sustento e sobrevivência em forma de sacrifícios.
O alimento que digerem, a água que bebem, o ar que respiram, tudo deve ser restituído ritualisticamente, representado por pequenas porções. Em cada uma destas porções me farei presente, pois elas, como tudo o mais, são parte de mim mesmo._ disse Olódùmarè.
_ Como parte de ti?_ perguntou Èsù_ Podes desvenda-nos este mistério?
_ Eu sou o sacrifício e o ritual. Sou a oferenda, o cântico e as ervas. Sou o fogo e a água. Sou o ar e sou a terra.
Eu sou o Pai e a Mãe do Universo. Sou seu sustentador e purificador. Os Orixás e os Eborás são manifestações de minha personalidade múltipla e, ao mesmo tempo, indivisível.
Tudo o que for a eles oferecido pelos homens, será por mim recebido, pois eu sou a meta, a morada e o refúgio. Sou a eterna semente, sou o tudo e sou o nada. Sou Ogbe, a vida, e Iku, a morte. Sou a criação e a aniquilação.
Sou igual com todos, imparcial e amigo. Sou amor por minha criação, pois estou nela, faço parte dela.
É necessário que os humanos reiterem seus sacrifícios para que tal coisa não volte a acontecer. Tudo aquilo que consomem deve ser simbolicamente restituído à natureza, que dispensa a eles os meios de sobrevivência. As oferendas são indispensáveis para a manutenção do sistema! _ finalizou Olódùmarè.
Em seguida, Olódùmarè entregou a eles todas as coisas de valor que já haviam perecido na Terra, e que eram indispensáveis à sua sobrevivência; dentre estas coisas estavam diversos feixes de chuva.
Logo que saíram do palácio, Òsétùwá perdeu um dos feixes de chuva e imediatamente começou a chover com muita intensidade sobre a Terra.
O Axé novamente se expandia sobre a Terra, e o mundo tornou-se, outra vez, aprazível e poderoso.
E Èsù Odara e Òsétùwá por haverem, juntos, salvo a Terra da destruição se converteram portadores de todas as oferendas endereçadas ao Òrun.
Um comentário:
Parabéns pela postagem dessa lenda que contribui muito para nossa nação.São pessoas e yalorisás iguais a você que sentimos orgulho e felizes de pertecerem a nossa religião Parabéns que Oxum lhe banhe com o axé da prosperidade,do amor, e da saúde. dois mil e doze abraços. Iclayr Mendes (chocolate) Ribeira do Pombal Bahia
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