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Ìyálórìsà responsável pelo Ilê Ìyába Àse Òsun Doko, de Nação Ijexá, localizado na cidade de Gravataí-RS; filha de Pai Pedro de Oxum Docô. Contatos fone:(51) 9114-2964 ou e-mail fernanda__paixao@hotmail.com

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

"Cavalo de Santo- Religiões afro-gaúchas"

Livro "Cavalo de Santo- Religiões afro-gaúchas" 
da fotógrafa Mirian Fichtner

Maravilhoso trabalho!

























A obra fotográfica é resultado de minuciosa pesquisa de campo, de mais de 4 anos, que teve origem na constatação do IBGE, no censo de 2000, de que o Rio Grande do Sul é o estado que concentra, proporcionalmente, o maior número de adeptos declarados, bem como terreiros, de religiões africanas no Brasil.
O projeto já rendeu uma exposição em 2008, que esteve em cartaz no Rio de Janeiro e em Porto Alegre. Para realizar o trabalho, Mirian contou com o apoio do jornalista e produtor cultural Carlos Caramez e do antropólogo Ari Pedro Oro, um dos maiores especialistas em religiões do país.
Através de fotos, a autora revela a singularidade, a força e a dimensão social e humana de práticas populares quase invisíveis no Estado, trazendo para o centro da cena a cultura das religiões de matriz africana em terras gaúchas. Destaca a pujança e a beleza de rituais e festas, assim como os seus principais personagens e as inúmeras vertentes das manifestações de fé: o batuque, a umbanda e a linha cruzada. Com a proposta de traduzir visualmente um dos mais emblemáticos fundamentos dessas religiões, a união do belo e do sagrado, Mirian mergulhou nessa realidade e testemunhou rituais nunca antes registrados por uma câmera fotográfica.
- Fotografei pais e mães-de-santo com mais de 50 anos de feitura e encontrei um povo de religião orgulhoso de sua fé e da sua cultura. Gente guerreira, incansável no trabalho diário de materializar rituais, preparar oferendas, festas, atender pessoas e manter esta cultura ancestral viva -ressalta Mirian que, entre 2006 e 2010, pesquisou cem terreiros, visitou mais de 30 casas e escolheu 13 para documentar, produzindo mais de 10.000 fotos.
Com destaque para o aspecto plástico, a força das cores, da poesia e da fé, o livro tem tratamento de arte, capa dura, no formato 28cmX28cm, em 5 cores, 168 páginas, com 153 fotos e textos bilíngües (português-inglês).
Fontes: http://wp.clicrbs.com.br/riogrande/2011/04/29/livro-cavalo-de-santo-sera-lancado-nesta-sexta-feira/
http://especiais.ig.com.br/zoom/cavalo-de-santo-religioes-afro-gauchas/




terça-feira, 23 de agosto de 2011

QUAL É A SUA ESCOLHA? QUAL É O SEU AXÉ?


"Olódùmarè dá a vida, cabe a cada um de nós decidir como vivê-la.


Não há como colher o que não se planta, nem plantar erva daninha e colher orquídeas.


Hoje posso escolher me lamentar por sair no frio e na chuva, ou agradecer a bênção de ter agasalhos, guarda-chuva e, especialmente, um bom emprego. Por ter minha casa e ter dormido em uma cama quentinha, eu e minha família, e não ter ficado ao relento. Por ter bons alimentos à mesa!


Carregar uma cara amarrada ou um sorriso, dar um simples "oi" ou um "BOM DIA" a quem cruzar pelo meu caminho, reclamar do mundo ou falar coisas agradáveis... 


Destruir meu corpo ou cuidar com amor o invólucro material de meu espírito, de minha Orixalidade, de meu Ori abençoado e consagrado, carregado de axé! 


Que axé terei eu se não der valor a todas as bênçãos que cercam minha vida, meu caminho, meu ser?


Que axé terei eu se utilizar minhas mãos e minha boca para coisas negativas? Afinal, os principais transmissores de axé são as mãos e as palavras!


Que axé transmitirei se não cuidar de mim; se não tratar com amor do meu corpo, do meu emocional, do meu espiritual? Como cuidarei de meus descendentes carnais e religiosos? Que herança deixarei de positiva em suas vidas?


Cada um é portador e transmissor de seu próprio axé. Fazer com que ele seja de maldade, mentira, vingança, dor, tristeza, raiva, rancor, ressentimentos, inveja,  lamentações... ou de crescimento, dinamismo, prosperidade, saúde, fartura, amor, fertilidade, doçura, força, luta, superação... é uma escolha de cada um de nós.


QUAL É A SUA ESCOLHA? QUAL É O SEU AXÉ?"





quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Otimista X Pessimista

O otimista enxerga e aproveita as oportunidades.

Quando aparecem as dificuldades ele pensa logo como ultrapassá-las para seguir em frente.

Tem ação pró-ativa frente aos problemas, foca-se nas soluções!

Mas o pessimista muitas vezes nem inicia o trajeto com medo do que pode dar errado.

Quando inicia, trava nos obstáculos, sofre com eles, lamenta-se... Tem ação passiva, vive afogado nos problemas.


DIFICULDADES TODOS TEMOS, O QUE MUDA 
É A MANEIRA COMO LIDAMOS COM ELAS!


‎"O homem que realmente deseja fazer algo sempre encontra um CAMINHO.

                        Mas o pessimista encontra logo um obstáculo."



Cada ser humano tem o livre arbítrio de escolher entre ser espectador da vida ou autor da própria história!

quarta-feira, 27 de julho de 2011

PROVÉRBIOS AFRICANOS

Alguns provérbios dos povos do Congo, Costa da Mina, Takrur, Senegânbia, Etiópia e Zambézia.
  1. Não saber é ruim; não querer saber é pior!
  2. O saber é melhor que a riqueza.
  3. O saber é uma horta: quem não cultiva, não colhe.
  4. Os provérbios são filhos da experiência.
  5. Um homem sábio, que conhece provérbios, supera todas as dificuldades.
  6. A chuva lava a pele do leopardo, mas não remove as pintas.
  7. Árvore que já foi queimada é mais fácil de derrubar.
  8. Só depois de atravessar o rio é que se pode rir do crocodilo.
  9. Quem está se escondendo não acende fogo.
  10. Homem rico pode vestir roupa velha.
  11. A fome tanto dá no escravo quanto no rei.
  12. A lua se move lentamente, mas atravessa a cidade.
  13. O ódio é uma doença sem remédio.
  14. Mesmo forte e vigoroso, nenhum velho dura muito.
  15. Quando o bobo aprende o jogo, os jogadores já se foram.
  16. O rio de águas tranqüilas, esse é que é mais perigoso.
  17. O que é má sorte para um é boa sorte para outro.
  18. O tolo, ouvindo um provérbio, tem que ouvir a tradução.
  19. Quem não pode dançar, diz que a música é ruim.
  20. Quem vive dando banquete não vai nunca ficar rico.
  21. Quem trabalha por dinheiro nunca se envergonha dele.
  22. O dinheiro é traiçoeiro feito espada de dois gumes.
  23. Macaco velho casa é com macaca velha.
  24. O fogo e a pólvora não dormem na mesma esteira.
  25. Não se vê se um rio é fundo botando nele os dois pés.
  26. Dois antílopes pequenos podem bater num maior.
  27. O filho do carangueijo nunca vai ser passarinho.
  28. Quem não pesca peixe, come pão duro.
  29. Carinho só é bom de parte a parte.
  30. Amizade pra ficar é a que recebe e dá.
  31. Se não tem dois  não tem briga.
  32. Quem fala sem parar fala besteiras.
  33. Um pequeno bolor estraga toda a massa.
  34. Chuva fina, mas constante, faz o rio transbordar.
  35. O dendezeiro já está grande; mas quem sabe se vai dar bons frutos?
  36. Ver é muito melhor que ouvir.
  37. O mal sabe onde o mal de esconde.
  38. Atrás de todo homem rico há sempre um grande cortejo.
  39. Quem vai nos ombros dos outros não sente a grande distância.
  40. Quem se livra do cupim não está livre da formiga.
  41. A pedra do rio não sabe como a montanha é quente.
  42. Caolho quando vê um cego dá graças a Deus.
  43. As pernas dos outros não te ajudam a viajar.
  44. Boas palavras não enchem barriga.
  45. Se o touro vem pra cima, deite-se!
  46. O gavião voa alto, mas nem sempre volta pra terra.
  47. Quando o rato ri do gato, há um buraco por perto.
  48. Criança falou bobagem, é porque ouviu em casa.
  49. Quem põe navalha na boca, acaba cuspindo sangue.
  50. Quem atira, antes mira.
  51. Quem está em maus lençóis, sempre se lembra de Deus.
  52. Antes de curar os outros, cura-te primeiro.
  53. O pastor não maltrata suas ovelhas.
  54. Por mais que um pássaro beba, um elefante bebe mais.
  55. Primeiro cresce a cabeça, depois é que o chifre nasce.
  56. Por mais cheio que esteja o terreiro, a galinha sempre se ajeita.
  57. Peixe grande se pega é com grande isca.
  58. Quem recusa presente não enche o celeiro.
  59. As brigas acabam, mas as ofensas nunca morrem.
  60. Quem desarruma tem que saber arrumar.
  61. A vaca só pasta onde está amarrada.
  62. Laranjeira nunca vai dar limão.
  63. Comida boa acaba logo.
  64. Cabeça de elefante não é pra criança carregar.
  65. O homem que te transporta, se tem catinga, ignore!
  66. Cachorro que anda é que encontra o osso.
  67. Se você não pisar no rabo de um cachorro, ele não morderá você.
  68. A enchente leva para dentro, a mará baixa leva para fora.
  69. É tentando muitas vezes que o macaco aprende a subir da árvore.
  70. Coração de sábio mente tranqüilo como córrego límpido.
  71. O que se diz em cima de um leão morto não se diz a ele vivo.
  72. A criança é a recompensa da vida.
  73. Estar bem vestido não impede ninguém de ser pobre.
  74. Quanto mais cheio o rio, mais ele quer crescer.
  75. Amor é como criança, precisa muito de carinho.
  76. Os dentes estão sorrindo, mas o coração está?
  77. Não se ensinam os caminhos da floresta  um gorila velho.
  78. A morte não emite som de trombeta.
  79. Não importa se a noite é longa, pois o dia sempre vem.
  80. Os ausentes estão sempre errados.
  81. Carne, para que os amigos cheguem! Calúnia, para que fujam.
  82. Montei num elefante, os amigos chegaram; morreu o elefante, os amigos se foram.
  83. O elefante não sente o peso da própria tromba.
  84. A paciência alimenta, a preguiça não sustenta.
  85. A fama do feiticeiro se faz no próprio terreiro.
  86. Quem nunca teve desgosto não pranteia o mal dos outros.
  87. Quem sofre na casa-grande se desforra na senzala.
  88. Mais vale a prudência que o feitiço.
  89. A cabra come o capim que lhe apatece.
  90. Ter dois olhos é um orgulho, mas ter um só é melhor que não ter nenhum.
  91. Antes a água derramada que a jarra quebrada.
  92. Um camelo não ri da córcova do outro.
  93. Quem fez maldade que espere maldade.
  94. Toda boa obra merece recompensa.
  95. Um amigo burro é pior que um inimigo inteligente.
  96. É melhor ser amado que temido.
  97. Nem toda semente dá fruto.
  98. Quem gosta de dinheiro tem de trabalhar.
  99. Rato sensato não faz trato com gato.
  100. Palma da mão coçou, sorte grande a caminho.
  101. Quem queima uma casa não oculta a fumaça.
  102. Quem é mordido por cobra tem medo até de minhoca.
  103. Flecha pequena não mata cobra grande.
  104. Atrás da insensatez vem o remorço.
  105. Antes de falar, pensa-se primeiro.
  106. Um dedo sozinho não mata nem piolho.
  107. A experiência é que faz do tolo um sábio.
  108. A palavra é como a pedra: se atirada, não tem volta.
  109. Meia broa é melhor que nenhum pão.
  110. O figo mais bonito pode ter um bicho dentro.
Estraídos do livro "Kitábu: o livro do saber e do espírito negro-africanos" de Nei Lopes.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

A Criação da Terra por Òsàlà

(Extraído do livro "Mitos Yorubás: O Outro Lado do Conhecimento" de José Beniste, com adaptações)

O que é agora nossa terra foi, certa vez, uma aguacenta e pantanosa imensidão. Acima havia o éter, o espaço celestial, denominado òrun e que era a morada de Olódùmarè, o Ser Supremo, dos Òrìsà e de outros seres primordiais. A aguacenta imensidão constituía, de certa forma, o local de caça para seus habitantes, que costumavam descer por cordas de teias de aranha formando pontes pelas quais andavam.


Conviviam com Olódùmarè vários Òrìsà; entre eles, Obàtálá (também conhecido por Òsàlá), Òrúnmìlà, Èsù, Ògùn e mais Agemo, o camaleão, criado de confiança do Ser Supremo. Na parte de baixo vivia Olókun, a divindade feminina que governava a vasta expansão de água e os pântanos selvagens.


Certa vez, Obàtálá, observando essa região disse: “Todo esse espaço não tem a marca de nenhuma inspiração ou coisa viva. Tudo é muito monótono.” Em seguida, foi até Olódùmarè e expôs seu pensamento: “O lugar governado por Olókun é uma mistura de mar, pântano e nevoeiro. Se existisse terra sólida naquele lugar - campos, florestas, morros e vales -, seguramente ele poderia ser habitado pelos Òrìsà e por outras formas vivas.” Olódùmarè respondeu: “Sim, seria uma boa idéia cobrir as águas com terra. Mas trata-se de um empreendimento ambicioso! Quem faria esse trabalho?” Obàtálá respondeu: “Eu tentarei e farei de tudo conforme o Seu desejo.”


Com a devida permissão, Obàtálá saiu à procura de Òrúnmìlà, que entendia dos segredos da existência, e dele recebeu instruções de como efetuar aquela tarefa. “Estas são as coisas que você deve levar: uma concha cheia de terra, uma galinha branca de cinco dedos em cada pé e um pombo.” Tudo providenciado, Obàtálá desceu através de grossas teias e, antes de chegar ao seu final, despejou o conteúdo da concha e, em seguida, lançou a ave encantada, que passou a espalhar a terra por todas as direções, com o pombo transportando todo o material de um lado para o outro. A terra que estava sendo espalhada foi tomando formas desiguais, originando morros e vales. Quando tudo havia sido feito, Obàtálá saltou da teia para a terra firme, pisou-a e a sentiu segura e firme, mas ainda estéril.


Obàtálá chamou o lugar de onde o trabalho havia sido efetuado de Ifè, que significa “aquilo que é amplo”. De acordo com a tradição, foi assim que Ifè, a cidade sagrada desse povo, obteve seu nome. A criação da Terra foi completada em quatro dias; o quinto foi separado para se reverenciar Olódùmarè, que, mais tarde, desejando saber como andavam as coisas na Terra, enviou Agemo para fazer uma inspeção em toda a região. Ao chegar lá, andou cuidadosamente para experimentar a terra. Achando-a firme, procurou Obàtálá e lhe disse: “Como você pode ver, a Terra está criada, mas ainda falta muita coisa - planta, árvores e gente - para habitá-la. E, mais ainda, há muita escuridão. A terra deve ser iluminada.”


Agemo retornou para o òrun e descreveu para Olódùmarè o que tinha visto e ouvido. Prontamente o desejo de Obàtálá foi atendido com a criação do Sol. Depois disso, surgiram o calor e a luz, no lugar que havia sido domínio exclusivo de Olókun. Em seguida, Olódùmarè enviou Òrúnmìlà para agir como conselheiro de Obàtálá, que levou consigo a primeira palmeira de dendezeiro, o igi òpe, para ser plantada. Deu também três outras árvores para serem plantadas - Iré, Awùn e Dòdo - que serviriam para extrair alimentos e agasalhos. Como não havia bastante água para ser usada, fez cair chuva sobre a Terra. Com todos os elementos em seu poder, Obàtálá completou a tarefa, equipando a Terra com matas, florestas, rios e cachoeiras. 


Logo depois foi designado para outro trabalho, o de modelar a imagem física daqueles que deveriam habitar toda a Terra criada. Para isso revolveu o barro e o umedeceu com a água das fontes, modelando, na forma determinada por Olódùmarè, figuras idênticas aos seres humanos. Obàtálá trabalhou sem descanso, vindo a ficar esgotado e com muita sede. Buscou socorrer-se com vinho de palma, o emu. Assim sendo, foi buscar entre as palmeiras do dendezeiro, o líquido para aliviar a sua sede. Ao extrair o líquido, deixou-o fermentar e depois bebeu-o por longo tempo, até que sentiu seu corpo amolecer e tudo à sua volta girar. Ao conseguir manter-se de pé, voltou ao trabalho, mas sem as condições iniciais. Com isso, vários modelos das figuras ficaram desajeitados, disformes, com pernas e braços tortos. Outros apresentavam as costas altas, cabeça desproporcional e estatura irregular, idênticos a anões. Mesmo assim, todos foram colocados em posição apropriada, aguardando a presença do Ser Supremo para dar vida a todas essas figuras inanimadas. 


A instrução dada a Obàtálá, portanto, era a de que, quando tivesse completado a sua parte na criação do Homem, avisasse Olódùmarè, que então viria para das vida, colocando o emìí em seu corpo, completando, assim, a criação do ser humano. De meras figuras de barro moldado, transformaram-se em seres de sangue, nervos e carne. Com a vida insuflada em suas narinas, começaram a andar e a fazer as coisas necessárias à sua sobrevivência. 


Quando cessou o efeito do vinho de palma, Obàtálá viu que alguns seres humanos que havia moldado estavam deformados. Ficou triste e sentiu remorso. Então disse: “Nunca mais beberei vinho de palma. Serei sempre o protetor de todos os humanos defeituosos ou que tenham sido criados imperfeitos.” Por causa dessa promessa, os seres humanos coxos, cegos, sem braços, surdos, mudos e aqueles que não têm pigmentos em suas peles, os albinos, são chamados de Eni Òrìsà, pessoas especiais sob a sua proteção. 



Todos viviam uma vida pacífica em torno de Obàtálá, que era o seu rei e orientador. Mesmo sem as ferramentas adequadas, pois ainda não existia o ferro no mundo, o povo plantava e semeava. As árvores se multiplicavam, e o povo crescia juntamente com a cidade de Ifè, seguindo tudo conforme a sua determinação. Assim, Obàtálá decidiu voltar ao òrun, tendo sido preparada uma grande festa para a sua chegada. Ali, junto aos demais Òrìsà, ele relatou as coisas existentes no novo mundo e todos se mostraram decididos a viver com os seres humanos criados. Desse modo, muitos Òrìsà partiram para a Terra, mas não sem antes ouvir as instruções de Olódùmarè quanto às obrigações de cada um. Deixou a seguinte mensagem para todos: 


“Quando vocês se fixarem na Terra, nunca se esqueçam de seus deveres para com os seres humanos. Todas as vezes que eles tiverem suplicando por ajuda, observem com atenção o que estão pedindo. Vocês serão os protetores da raça humana. Obàtálá foi o primeiro que desceu e secou as águas. Ele será o eterno governante deste mundo e a minha segunda pessoa, e, por isso, será chamado de Enikéjì Èdùmàrè (Eni: pessoa; kéjì: segunda), devidamente retratado no seguinte texto:


Obàtálá, Ògirigbànigbo, aláyé ti wón nfi ayé fún.
(Obàtálá, o magnífico que possui o mundo e é dono de seu controle.)


Òrúnmìlà será o meu porta-voz, pela condição de ser conhecedor dos destinos de todos os habitantes da Terra e terá o título de Elérí Ìpín (Testemunha dos Destinos). Cada um de vocês terá uma responsabilidade especial para preencher os espaços da Terra.”


CONCLUSÃO:
Este mito possui três versões diferentes, de acordo com as tradições regionais yorubá. Revela a condição de primazia de Obàtálá, que seria chamado de Òsàlá, e o seu poder de realização, e de Òrúnmìlà, com o seu poder de sabedoria nas decisões a serem tomadas. É a associação de dois princípios para um objetivo seguro. A bebida passou a ser proibida aos filhos desse Òrìsà, dada a insegurança que ela transmite para a realização de tarefas cuja ética e moral devam sempre predominar. 


NOTAS: 

  • Olódùmarè: Nome do Deus Supremo do povo yorubá. Olódù - Senhor do Poder, maré - imputável, incomparável, absolutamente perfeito.
  • Òrun: Espaço abstrato destinado à morada das divindades e outras formas de espíritos. Divide-se em 9 partes destinadas a finalidades específicas, entre as quais: òrun rere - o bom espaço; òrun burúkú - espaço destinado às pessoas más; òrun ìsálú -  espaço do julgamento das pessoas. 
  • Òrìsà: Divindade intermediária entre Olódùmarè e os seres humanos, e identificada com fenômenos da natureza. Os vários Òrìsà são descendências do Ser Supremo, no sentido de que todos derivam Dele. O número de divindades varia de acordo com certas interpretações. A teogonia yorubá revela que, no começo, havia somente poucas divindades e que, devido a certos processos surgidos posteriormente, houve incrementação e multiplicação do número de Òrìsà. A fusão de clãs, a veneração de uma mesma divindade sob nomes diferentes e a divinização de personagens históricos foram fatores importantes. Assim, conclui-se que o panteão yorubá é composto de divindades primordiais e ancestrais que acharam seu caminho em razão de uma excessiva veneração por parte do povo, tornando-se idênticos com algumas antigas divindades.
  • Obàtálá: Também chamado de Òsàlá, e, em algumas narrativas de odù, citado apenas como Òrìsà.
  • Ifè: Principal cidade yorubá e onde se iniciou toda a cultura mítica. Está associada à criação do mundo. Fè - o que é amplo ou extenso. 
  • Òsè yorubá: Semana yorubá. Era composta apenas de 4 dias: Ojó Awo, Ojó Ògún, Ojó Jàkúta e Ojó Obàtálá, representando respectivamente, os 4 princípios: da Sabedoria, da Luta pela Sobrevivência, da Justiça, e da Criação.
  • Agemo: O camaleão. A preocupação que teve ao pisar nas novas terras criadas é que fez seus descendentes andarem de maneira cuidadosa. É um animal sagrado pela sua extraordinária capacidade de mudar de cor e mover os olhos sem movimentar a cabeça, o que lhe permite olhar em todas as direções simultaneamente.
  • Òrúnmìlà: Representa o princípio da sabedoria e a ele é dedicado o primeiro dia da semana yorubá.
  • Igi Òpe: A palmeira de dendezeiro. Produz dois tipos de óleo: epo pupa (azeite-de-dendê) - da parte externa do fruto - e o àdin - da castanha interna do coquinho. Do caule extrai-se um tipo de bebida - emu, o vinho de palma. Das folhas - imo òpe - são feitas vestimentas e coberturas, sendo que, nos cultos religiosos, as folhas mais novas são desfiadas e colocadas nas portas dos terreiros como forma de proteção pelo pacto feito com Ògún. Dessa forma recebe a denominação de màrìwò. (No Sul do Brasil, é comumente substituído o màrìwò pela “Espada de São Jorge” na porta das residências, também simbolizando proteção pelo Òrìsà Ògún.)
  • Vinho de Palma: Sua denominação entre os yorubás é emu, e entre os povos cabindas, é chamado de malafu, com variante para Marajó, sinônimo de aguardente.

quarta-feira, 30 de março de 2011

2º ENCONTRO DE REFLEXÃO TEOLÓGICA E FILOSÓFICA AFRO-UMBANDISTA




2º ENCONTRO DE REFLEXÃO TEOLÓGICA E FILOSÓFICA
AFRO-UMBANDISTA EM CANOAS (RS)


 No complexo teológico e filosófico africano e/ou afrodescendente, todo Ser Humano possui uma Divindade (Orixá, Inkice, Vodun, Ancestral, Antepassado, etc..,). Nesse pressuposto ontoteoexistencial, o respeito ao Outro e, sobretudo, em meio aos/as adeptos da Religião Afro-Umbandista, deve funcionar como um determinante da improbidade de toda e qualquer subtração Existencial. Na verdade o detentor/a de Orixalidade (Orixá, Inkice, Vodun, Ancestral, Antepassado, etc..,) deve comportar-se - porque assim o/a é – como uma sacralidade existencial sob a qual reside toda responsabilidade para com o equilíbrio do Cosmo indissociável da dinâmica das relações sociais.

      Jayro Pereira (Omo Orisa)
Teólogo Afro-Umbandista
Bacharel em Teologia
Licenciado em Ciências Religiosas

ENDEREÇO:
Auditório da Biblioteca João Palmas da Silva
Rua Ipiranga, 105 – Centro – CANOAS - RS
(Prédio do antigo Fórum de Canoas/Em frente ao Clube Caça e Pesca ) 

CONSIDERAÇÕES INICIAIS  
 A Religião de Matriz Africana / Afro-Umbandista apesar da sua longa presença na sociedade brasileira e da enorme quantidade de adeptos em todo o país, ainda enfrenta problemas de grandes magnitudes os quais se arrastam por séculos e historicamente. A dinâmica das relações sociais hodierna em que reconhecimento e valorização da diversidade religiosa com prevalência das crenças socialmente marginalizadas constituem-se como tônica, tal processo não tem produzido mudanças concretas ou alterado significativamente o quadro da Religião de Matriz Africana e Afro-Umbandista e dos seus fiéis que prosseguem sendo alvos tanto do racismo cultural religioso como da intolerância religiosa que cada vez mais se complexifica; o atual estágio da intolerância religiosa tem recorrido aos recursos da semiologia (ciências dos símbolos) e da semântica substanciando desta forma no seio da população sentimento de afrotheofobiaque grassa no Brasil.
Internamente aos religiosos afro-umbandistas permeiam elementos do passado colonialista e do capitalismo vigente em que para além de alterar e significativamente a dinâmica civilizatória bem como os conteúdos teológicos e filosóficos da cosmovisão africana, os fiéis afros e os templos dos Cultos aos Ancestrais, Antepassados, Orixás, Inkices, Voduns, etc., têm funcionando mediante uma prática concorrencial que incide sobre a unidade dos adeptos a despeito dos impropérios da sociedade abrangente.
Ou seja, as ações nacionais contra a intolerância religiosa, entre tantas outras ações, que tem a bem da verdade juntado muitos adeptos, não tem possibilitado unidade política eficaz e duradoura. Contraditoriamente tem-se sido apenas numérico e não um quantitativo qualitativo devido à dissociação de todo um arsenal de conceitualidade e princípios estruturadores.
Os fatores que concorrem para esse “estar juntos, porém, dispersos” são de origem não tão remota em face da barbárie do processo de desterritorialização simbólica e material de populações étnico-raciais africanos/as e na dispersão das Américas pelo menos de três períodos históricos, quais sejam: Colônia, Império e da primeira República com o “Estado Novo” que como num continuum informam as relações étnico-raciais e teológicas do presente. Mediante a essa parcial análise os desafios que estão colocados para os/as crentes afro-umbandistas são muitos, mas que nos ateremos a alguns apenas como abaixo relacionados:

Ø  Discernimento e enfrentamento radical dos fatores e elementos advindos do colonialismo, ainda presentes nesses tempos de vigência do que se compreende como neocolonialismo e dos seus correlatos como o fenômeno da globalização, da inculturação revigorada contemporaneamente, etc.;

Ø  Compreensão dos mecanismos de controle e de divisão produzida pelo Estado Novo em que organizações federativas foram criadas se passando como órgãos oficiais, usurpando em função dessa falácia atribuições do Estado para desta forma continuar, mesmo que inoperantemente, explorando Casas de Religião. Tais organismos também agem de forma a impedir a formação de massa críticas dos adeptos/as em que intrigas, difamações, mentiras, calúnias, etc., funcionam como ingredientes de tais organizações quase sempre de natureza antidemocrática;    

Ø   Tomada de consciência acerca das pilhagens epistemológicas e mediante a isso entender que “teologia não é uma teleologia judaica cristã e/ou católica” devendo com isso compreender os mecanismos do “fascismo epistemológico” vigente sob o qual se sustenta a colonialidade das ciências humanas e sociais;

Ø  Entendimento de que a luta contra o racismo cultural religioso que embasa e dinamiza a intolerância religiosa só será debelada mediante a tríplice dimensão qual sejam: o embate política em que a unidade dos/as adeptos/as se inscreve como condição imperativa, jurídica no sentido da criminalização da intolerância religiosa e epistemológica em que o estudo da teologia e da filosofia deve converter-se no aprendizado sistemático em que categorias de análises e quadro de referências êmico da Tradição de Matriz Africana e Afro-Umbandista sejam teoricamente apreendidas possibilitando assim a elaboração de uma afroteohermenêutica que instrumentalize argumentatividade imbatível e fôlego inesgotável.
     
Os Encontros de Reflexão Teológica e Filosófica Afro-Umbandista, portanto, se justificam  face aos  desafios explicitados, visando com essa dinâmica dos encontros itinerantes substanciar a fé dos afro-religiosos, fortalecimento do espírito de corpo face à luta cotidiana contra os estigmas, estereótipos, preconceitos, discriminações, etc., bem como promover confraternização e despertar a premente urgência do estudo teológico e filosófico da Religião de Matriz Africana e Afro-Umbandista  para desta forma incidir na mudança substancial da ótica da sociedade e da instituições  em geral de modo a tirar a Religião dos Orixás, dos Inkices, dos Voduns, dos Ancestrais e Antepassados do lugar marginalizado que ainda se encontra no Brasil, na África e nas Américas como um todo.                        
OBJETIVO GERAL

Ø  Reunir religiosos afro-umbandistas através de encontros itinerantes na região metropolitana da cidade de Porto Alegre (RS), de forma a possibilitar reflexões teológicas e filosóficas concernentes à Religião de Matriz Africana e Afro-Umbandista, bem como substanciar a fé dos adeptos/as, promover confraternização, congraçamento de forma a fortalecer cada vez mais o espírito de corpo dos fiéis dos Orixás, dos Inkices, dos Voduns, dos Ancestrais e Antepassados para que conjuntamente fortalecidos possa exercer enfrentamento cotidiano dos estigmas, estereótipos, preconceitos, discriminações, enfim da intolerância religiosa que dissemina e introjeta na população sentimento afrotheofobia que vem sendo materializada em ações contra os/as afro-umbandistas e afrodescendente em geral e a despeito da sua relação religiosa afro.        

 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Ø  Reunir intelectuais vivenciadores (as) da Religião Afro-Umbandista de Porto Alegre e Região Metropolitana para avaliar a conjuntura hodierna dos Cultos Afro-Gaúchos, bem como discutir a necessidade de posicionamento teórico de forma interdisciplinar das várias áreas do conhecimento dos adeptos (as) visando intervenção mais qualificada na sociedade abrangente.

Ø Discorrer sobre o engajamento político e social dos (as) intelectuais vivenciadores (as) para desta forma contribuir para a alteração do racismo cultural religioso afro, bem como da intolerância religiosa que se abate contra as comunidades terreiras e seus adeptos.

Ø Dialogar acerca do papel das Comunidades terreiras e a relação das mesmas com a comunidade circundante e/ou do entorno, de forma a pensar estratégias políticas e pedagógicas que envolvam as populações locais nos seus segmentos etários mediante a realização de ações sociais pertinentes.

Ø  Sensibilizar intelectuais da religião afro-umbandista para ação docente em cursos voltados para aperfeiçoamento de adeptos dentro de uma perspectiva teológica e filosófica de visão de mundo. 

METODOLOGIA
Os encontros de reflexões teológicas e filosóficas afro-umbandistas que se realização itinerantemente nas cidades da região metropolitana de Porto Alegre (RS) de forma participativa dos/as adeptos/as da Religião de Matriz Africana e Afro-Umbandista se desenvolverão mediante a coordenação das organizações proponentes da atividade que contará com apoios administrativos e operacionais; exposições iniciais de tema ou assunto de natureza teológica e/ou filosófica afrodescendente de visão de mundo que acompanhará cada encontro, avaliações de conjunturas afro-teológica, apresentação dos participantes, relatorias, plenárias e deliberações, ritos de abertura e encerramento dos trabalhos, encaminhamentos, deliberações de moções, apresentação  de vídeos, debates, etc.
AVALIAÇÃO
Todos/as os/as participantes dos Encontros de Reflexão Teológica e Filosófica Afro-Umbandista deverão produzir avaliações nas quais deverão constar as opiniões individuais acerca das atividades em que participarem, assim como propostas e sugestões que possibilitem aprimoramentos dos eventos em prol da dignificação da Religião de Matriz Africana e Afro-Umbandista.      

EQUIPAMENTOS E RECURSOS DIDÁTICOS      
 Microfone
Aparelho de Som
Aparelho de Vídeo
Retroprojetor
Flip Chart
Quadro de giz
Etc


CRONOGRAMA DE ENCONTROS

1º Encontro de Reflexão Teológica e Filosófica Afro-Umbandista em Porto Alegre,
Data: 19/03/2011 – Horário: 8h00 às 14h30 
 Local: Sede do Africanamente
Av. Protásio Alves, 68 – Rio Branco

I Encontre de Reflexão Teológica e Filosófica Afro-Umbandista, em Porto Alegre

2º Encontro de Reflexão Teológica e Filosófica Afro-Umbandista em Canoas
Data: 02/04/2001 – Horário: 8h00 às 14h30
Local: Auditório da Biblioteca João Palmas da Silva
Rua Ipiranga, 105 – Centro
(Prédio do antigo Fórum de Canoas/Em frente ao Clube Caça e Pesca ) 

3º Encontro de Reflexão Teológica e Filosófica Afro-Umbandista em Gravataí
Data: 16/04/2011 – Horário: 8h00 às 14h30
Local: Sede da CONCAUGRA
4º Encontro de Reflexão Teológica e Filosófica Afro-Umbandista em Alvorada
Data: 21/04/2011
Local: a acertar

5º Encontro de Reflexão Teológica e Filosófica Afro-Umbandista em São Leopoldo
Data: 23/04/2011
Local: a acertar

6º Encontro de Reflexão Teológica e Filosófica Afro-Umbandista em Viamão
Data: 30/04/2011
Local: a acertar

8º Encontro de Reflexão Teológica e Filosófica Afro-Umbandista em Guaíba
Data: 07/05/2011
Local: a certar

7º Encontro de Reflexão Teológica e Filosófica Afro-Umbandista em Pelotas
Data: 08/05/2011
Local: a acertar

8º Encontro de Reflexão Teológica e Filosófica  Afro-Umbandista em Rio Grande
Data: 15/05/2011
Local: a acertar  



ESCOLA DE TEOLOGIA E
 FILOSOFIA AFRO-UMBANDISTA

EGBÉ ÒRUN ÁIYÉ / ATRAI
Av. Protásio Alves, 68 – Rio Branco
Porto Alegre - RS
Fone (51) 3333-9224 e/ou 9545-0231